conheça a história

CONSTRUÇÃO E QUEDA
DO MURO DE BERLIM

Por TEMA DE CINEMA

Publicado em 01 de outubro de 2021

Símbolo maior da Guerra Fria, a construção e a queda do Muro de Berlim marcaram a história no século 20 e inspiraram inúmeras obras no cinema, na literatura e na academia. O muro também virou arte nas ruas, como mostramos nas imagens da East Side Gallery, a maior galeria ao ar livre do mundo. A seguir, conheça a história do muro e veja indicações de filmes e livros sobre o tema. 

Fotos: Tema de Cinema

Mapa de Berlim dividida nos lados oriental (comunista) e ocidental (capitalista)

Origem do Muro de Berlim

Construído há 60 anos, o Muro de Berlim (Berliner Mauer) foi resultado direto da divisão da Alemanha em territórios de influência dos países aliados, após o final da Segunda Guerra Mundial. Delimitada nas zonas britânica, francesa e americana a oeste, e soviética a leste, o lado oriental deu origem à República Democrática Alemã (RDA), aliada à antiga União Soviética e sob regime comunista. No lado ocidental, organizou-se a República Federal da Alemanha (RFA), alinhada aos países capitalistas liderados pelos EUA. 


Boa parte da população alemã, no entanto, não concordava com o novo sistema político-econômico comunista e deu início a um processo de fuga em massa para o lado Ocidental. Entre 1949 e 1961, cerca de 2,7 milhões de pessoas haviam deixado Berlim Oriental, ou seja, quase um sexto da população, na maioria jovens com menos de 25 anos.


À beira de um colapso social e econômico e para impedir o fluxo de refugiados, a RDA deu início à construção de uma barreira na madrugada de 13 de agosto de 1961, inicialmente com arame farpado. Com essa medida, o SED¹ (Partido Socialista Unificado da Alemanha) visava interromper o movimento de fuga, mas obteve pouco sucesso.


Vulneráveis, as barreiras de fronteira em Berlim foram aperfeiçoadas em uma longa parede de cimento em estrutura metálica, que cercava Berlim Ocidental e percorria o centro da cidade. O muro tinha 66,5 quilômetros de extensão, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para cães de guarda treinados. Cruzava 24 quilômetros de rios, 30 quilômetros de bosques e interrompia o trajeto de oito linhas de trens urbanos, quatro de metrô e 193 ruas e avenidas.


Patrulhado por militares da Alemanha Oriental, os policiais tinham ordens de atirar para matar (a Schießbefehl ou "Ordem 101"). Estima-se que pelo menos 140 pessoas foram mortas tentando atravessar para o lado ocidental, entre moradores, guardas de fronteira e até crianças inocentes. Dos sobreviventes, 112 foram alvejados ou despencaram do muro e foram presas junto a cerca de 70 mil pessoas acusadas de traição à RDA. Aproximadamente 5 mil pessoas conseguiram furar o cerco e entrar na Alemanha Ocidental.


Também chamado de Cortina de Ferro ou Faixa da Morte, o Muro de Berlim ergueu-se por 28 anos, de 1961 a 1989, quando foi derrubado por multidões. O gesto simbólico marcou um incontrolável movimento popular pela democracia na Alemanha, que se espalhou para outros países do bloco comunista e culminou com o fim da União Soviética.

Em 2021, o Muro de Berlim completou 60 anos de construção. No lado oeste, a Alemanha Ocidental permaneceu alinhada aos países capitalistas liderados pelos EUA. No lado leste, a Alemanha Oriental integrou o bloco de países comunistas aliados da antiga União Soviética.

Mapa da Alemanha dividida no pós-guerra entre os aliados: EUA, Reino Unido, França e URSS

O muro cruzava 24 quilômetros de rios, 30 quilômetros de bosques e interrompia o trajeto de linhas de trens urbanos e metrô, ruas e avenidas

Pelo menos 140 pessoas foram mortas tentando atravessar para o lado ocidental. Na imagem, fotos de algumas dessas vítimas, entre elas crianças. Memorial do Muro de Berlim (Berlin Wall Memorial), 2019

Capela da Conciliação: a antiga igreja foi demolida dois anos antes da queda do Muro de Berlim porque atrapalhava a visão dos guardas de fronteira. Apenas a cruz no alto da torre manteve-se intacta. Os fiéis a recolheram dos escombros e a esconderam até a democratização do país. Hoje, a igreja foi reconstruída e tornou-se símbolo da reunificação da Alemanha

A QUEDA

O muro de Berlim começou a ruir em 1985, quando o advogado e político russo Mikhail Gorbachev foi elevado ao cargo de Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética. De formação stalinista, o novo líder inclinou-se aos ideais da social democracia emergente na Europa, paulatinamente aplicada em seus mandatos de Secretário Geral (1985-1988) e 9º e último presidente da URSS (1988-1991).


Às voltas com problemas econômicos e sociais internos, em 1986, Gorbachev precisou administrar os efeitos da explosão de um reator nuclear em Chernobyl, na Ucrânia. O rígido controle e a ocultação das informações pelo estado soviético sobre o grave acidente resultaram em insatisfação popular e críticas internacionais à falta de transparência da URSS. Chernobyl, portanto, é considerado um dos motores importantes no iminente colapso do bloco comunista. Você pode conhecer esta história na série Chernobyl, na HBO Max.


Ainda em 1986, Gorbachev introduziu reformas de abertura política (Glasnost) e de reestruturação econômica do Estado (Perestroika). Um dos resultados foi a abolição do princípio de soberania limitada dos estados alinhados no Pacto de Varsóvia, a chamada Doutrina Brezhnev². Ao fazer isso, o líder russo possibilitou que os países do Bloco Leste determinassem sua própria política nacional.


No final dos anos 1980, os movimentos de reforma agitavam vários países do bloco comunista na Europa Central e Oriental. Na Polônia, o ativista Lech Walesa³, um eletricista no estaleiro naval de Gdansk, tomou a frente das greves lideradas pelo Solidariedade, foi preso pelo regime e depois libertado, persistindo na resistência até a almejada legalização do sindicato pelo Partido Comunista polonês. Anos mais tarde, com o restabelecimento do regime democrático, Walesa foi eleito presidente da Polônia (1990-1995).


Em 2 de maio de 1989, na Hungria, a população arrancou 240 quilômetros de arame farpado ao longo da fronteira com a Áustria, produzindo a primeira fissura na Cortina de Ferro. Em agosto, a onda revolucionária levou às ruas 2 milhões de pessoas da Estônia, Letônia e Lituânia, nas manifestações pacíficas conhecidas como Revolução Cantada. O movimento formou uma admirável corrente humana de 600 quilômetros por independência da URSS.


Na Alemanha Oriental, embora o SED não aceitasse os rumos das reformas de Gorbachev para a RDA, o partido foi forçado a fazer concessões, incluindo a liberdade de viagem. Após o anúncio incorreto de uma nova lei de emigração, o muro caiu em 9 de novembro de 1989 sob o ataque das multidões. A queda do Muro de Berlim marcou o fim do estado comunista da Alemanha Oriental e a última pá de cal na União Soviética. 


Uma curiosidade: quando o muro foi ao chão, o governo da RDA, membros das tropas da fronteira e populares começaram a exibir e comercializar pedaços do muro, vendidos até hoje como souvenir para turistas em Berlim.


Em 1989, quase três décadas após a construção do Muro de Berlim em 1961, sua derrubada por multidões foi transmitida pela TV para milhões de pessoas no mundo e inspirou produções no cinema, na literatura, na academia e na street art.


HISTÓRIA NAS RUAS

Em cada esquina da Berlim atual, há memoriais que lembram os dias sombrios do nazismo e do Muro de Berlim. Na antiga fronteira em Berlim Oriental (Bernauer Strasse), estão localizados o Memorial do Muro de Berlim, a Capela da Reconciliação (ver fotos) e outros monumentos de lembrança da divisão do país.


Considerada a maior galeria ao ar livre do mundo, a East Side Gallery expõe 105 pinturas e grafites de artistas de 21 países em 1,3 km da antiga fronteira preservada. A galeria foi idealizada em 1990, por duas associações de artistas alemães, a VBK e a BBK, com a intenção de preservar a memória coletiva do muro por meio da arte. 


O francês radicado em Berlim, Thierry Noir, foi o primeiro artista de street art a pintar no muro, produzindo a obra Homenagem à Nova Geração (ver galeria). Há pinturas de Jürgen Grosse, Dimitri Vrubel, Siegfrid Santoni, Bodo Sperling, Kasra Alavi e outros. Uma das mais famosas é o Beijo Fraternal (Bruderkuss), de Dmitri Vrubel, 1990, que reconstitui uma fotografia de Leonid Brezhnev, presidente da então URSS, e Erich Honecker, último presidente da RDA (1976-1989), tirada durante o 30º aniversário da fundação da Alemanha Oriental (ver galeria).


Desde 1991, a East Side Gallery é um monumento tombado pelo governo alemão. Atualmente, é uma das atrações turísticas mais populares de Berlim.

NOTAS


  1. O Partido Socialista Unificado da Alemanha (em alemão, Sozialistische Einheitspartei Deutschlands - SED) governou o estado comunista da República Democrática Alemã (RDA) desde 1949, quando foi fundado, até as eleições de 18 de março de 1990.

  2. Doutrina Brezhnev foi um conjunto de teses geopolíticas criadas pelo então presidente da URSS, Leonid Brezhnev, que permitia ao bloco soviético intervir política e militarmente em qualquer país alinhado a Moscou que ameaçasse a paz mundial ou o ideal comunista. A doutrina foi aplicada em 1968, nas manifestações na Tchecoslováquia, durante a chamada Primavera de Praga. O resultado foi a invasão do país e o esmagamento das reformas exigidas nas ruas.

  3. Lech Walesa tornou-se o primeiro presidente eleito da Polônia no pós-comunismo, em1990. Ex-eletricista, ex-líder do sindicato Solidariedade e ganhador do prêmio Nobel da Paz 1983, ele foi um dos agentes políticos decisivos para a derrocada do comunismo na Europa. Teve como aliado Karol Wojtyła, o papa polonês João Paulo II, que conduziu uma vigorosa ação política e diplomática contra o regime soviético no leste europeu.

VEJA ALGUMAS IMAGENS DA EAST SIDE GALLERY EM BERLIM, A MAIOR GALERIA DE ARTE A CÉU ABERTO DO MUNDO

FILMES, SÉRIES E LIVROS PARA CONHECER MELHOR A HISTÓRIA DO MURO DE BERLIM


FILMES

ADEUS, LÊNIN!

Título Original: Good Bye, Lenin!

Lançamento: 2003, Alemanha

Classificação: 12 anos

Gênero: Comédia dramática

Exibição: Claro Now

Sinopse: Uma mãe da Alemanha Oriental (RDA) infarta e entra em coma ao ver o filho em protesto contra o regime comunista. Um ano depois, ela acorda e o Muro de Berlim havia sido derrubado. Com medo de outro choque fatal, o filho faz de tudo para esconder da mãe que o regime mudou, o que rende momentos de comédia e drama na medida certa

Direção: Wolfgang Becker

Elenco: Daniel Brühl, Katrin Sass, Chulpan Khamatova, Florian Lukas

Prêmios: Prêmio de Cinema Alemão 2003 de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Roteiro, entre outros

NUNCA DEIXE DE LEMBRAR

Título Original: Werk ohne Autor

Lançamento: 2018, 2h18min, Alemanha

Classificação: 14 anos

Gênero: Drama

Exibição: Prime Vídeo

Sinopse: Três eras da história alemã são abordadas na jornada do jovem estudante de Arte, Kurt Barnert, e sua amada Ellie, filha de um médico nazista famoso que desaprova o relacionamento. O casal foge de Dresden e atravessa o Muro de Berlim, para viver na Alemanha Ocidental. Sob esses cenários, o desenvolvimento da arte de Kurt atravessa o ideário nazista, o realismo socialista da RDA e a arte abstrata no lado ocidental. Até o momento em que ele descobre a sua expressão, livre dos dogmas que o atormentam. 

Direção: Florian Henckel von Donnersmarck

Elenco: Paula Beer, Tom Schilling, Sebastian Koch, Saskia Rosendahl, Oliver Masucci



SÉRIES

CHERNOBYL

Título Original: Chernobyl

Lançamento: 2019, EUA/ Reino Unido

Classificação: 16 anos

Gênero: Drama baseado em fatos reais

Exibição: HBO Max

Sinopse: Minissérie de cinco capítulos sobre o gravíssimo acidente nuclear na Usina de Chernobyl, na Ucrânia, em abril de 1986, ainda durante a existência da União Soviética. Bem recebida pelo público e pela crítica especializada, além dos dramas humanos, a produção aborda o rígido controle de informação e falta de transparência do estado soviético e do governo ucraniano, que tentaram amenizar a extensão e a gravidade do acidente.

Criação: Craig Mazin

Direção: Johan Renck

Elenco: Jared Harris, Stellan Skarsgård,

Emily Watson

Prêmios: Na 71ª Cerimônia do Emmy Awards, venceu nas categorias de Melhor Minissérie, Melhor Direção e Melhor Roteiro


LIVROS

1989: O ano que mudou
o mundo

Título completo: 1989: O ano que mudou o mundo. A verdadeira história da queda do Muro de Berlim

Autor: Michael Meyer

Edição: 2009, 248 páginas

Editora: Zahar

Sinopse: Em 2009, vinte anos após a queda do Muro de Berlim, o então chefe da sucursal da Newsweek no Leste EuropeuMichael Meyer, narra neste livro os fatos que precederam a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria. É o olhar de quem esteve presente nos locais onde a onda revolucionária de multidões levaram à derrocada do comunismo

Onde comprar: Amazon


DEIXE O SEU CONTATO