CHURCHILL PASSOU PANO
PARA HITLER?
Churchill é considerado um herói em sua luta contra o nazismo, mas também é alvo de críticas por expressões e atitudes racistas e supremacistas em relação às colônias britânicas.
No livro
Guerra Secreta de Churchill
(Churchill's Secret War), a jornalista indo-americana
Madhusree Mukerjee
defende que, ao mesmo tempo que Churchill se opôs à barbárie dos nazistas, ele governou a Índia com a determinação de reprimir seus movimentos de independência, expressando notório desprezo pelas vidas nativas.
Segundo a autora, decisões do político inglês, entre 1940 e 1944, levaram direta e indiretamente à morte pela fome de cerca de 3 milhões de indianos.
Mukerjee afirma, ainda, que este número deve ser corrigido para cima, para mais de 5 milhões de pessoas.
O que ela chama de fome "criada pelo homem" na Índia tornou-se uma catástrofe humana que poderia ter sido evitada se Churchill não se recusasse a ceder navios disponíveis na Austrália para levar sobras de cereais para a região de Bengala. A fome de 1943 que devastou a Índia durante um ano raramente é mencionada na história britânica.
No livro
O Destino de uma Nação, o escritor, pesquisador e roteirista neozelandês
Anthony McCarten
relata que, em pelo menos duas ocasiões, Churchill, disse que não faria objeções a negociações com Hitler se o ditador alemão fizesse algumas concessões. 'Será que Churchill considerava seriamente entrar em conversações de paz com um maníaco homicida que ele abominava mais do que qualquer outra pessoa? Parece que sim', afirma McCarten.
O fato é que existem transcrições de debates no Gabinete de Guerra em que Churchill teoriza sobre cessão de territórios em favor de algum tipo de paz com os nazistas. Mas, ao que tudo indica, a tolerância do premiê explodiu em fúria contra o nazismo assim que Hitler mostrou suas garras imperialistas.
VERSÃO MAIS RECENTE
Em 2020, o aclamado jornalista e escritor britânico
Erik Larson
publicou o livro
Entre o Esplêndido e o Vil, após 55 anos da morte de Winston Churchill, com um relato do primeiro ano do então primeiro-ministro do Reino Unido. Nesse período, entre maio de 1940 e maio de 1941, Londres e outras cidades britânicas estiveram sob ataque massivo das forças aéreas nazistas, a
Luftwaffe, anunciando uma provável invasão das tropas de Hitler no território britânico. Nos bombardeios comandados por Hitler, cerca de 45 mil britânicos foram mortos.
Em linguagem de ficção, Larson faz um relato histórico e do cotidiano familiar do ex-premiê com base em documentos originais de arquivos, relatórios de espionagem outrora secretos, diários e cartas. À frente do cenário de terror permanente, o escritor apresenta as virtudes de Churchill ao tomar para si as missões de manter a nação unida e convencer o presidente americano, Franklin Roosevelt, a se aliar na luta contra Hitler.
Em plena pandemia, este livro pode nos devolver um pouco de esperança para ultrapassar crises aparentemente insolúveis, desde que existam lideranças políticas responsáveis e uma sociedade engajada na construção do próprio futuro. No mais, os mais terríveis pesadelos sempre têm um fim.
Em 2020, manifestantes antirracistas vandalizaram a estátua de Churchill na Praça do Parlamento em Londres (foto), na qual escreveram a frase "ele era racista". O atual primeiro-ministro, Boris Johnson, protestou nas redes sociais e disse que os britânicos não devem tentar censurar, ou editar o passado: “Sim, ele às vezes expressou opiniões que eram e são inaceitáveis para nós hoje, mas ele era um herói e merece plenamente seu memorial", defendeu.